Por quase uma década, as empresas de bens de consumo (CPG, na sigla em inglês) se concentraram em como aproveitar a convergência de TI/TO (informação e operação), as plataformas da Internet das coisas industrial (IIoT) e outras tecnologias digitais para melhorar as operações. A transformação digital tem como premissa melhorar a eficiência de produção, a comercialização e a redução de custos.
Mas quais são os sucessos obtidos pelas empresas com a transformação digital? Que lições, desafios e oportunidades ainda os aguardam? Steve Deitzer, vice-presidente de contas corporativas – CPG da Rockwell Automation, compartilha algumas das principais conclusões após moderar o Fórum de Alimentos e Bebidas na Automation Fair de 2021, que contou com representantes da Kraft Heinz e AB-InBev.
O fim da “fase experimental”
Como muitas empresas de CPG, já faz anos que os integrantes do painel começaram a avaliar a transformação digital. Mas as empresas que estão nos estágios iniciais dessa jornada se perguntam como começar esse processo com os sistemas e dados existentes.
Scott Ingles, chefe de TO internacional e automação da Kraft Heinz, relembra o início desse processo: “Sentamos e avaliamos os principais pilares da nossa organização: qualidade, segurança e produção. E analisamos o que precisávamos fazer, quais dados tínhamos e quais ainda precisávmos ter para fechar as lacunas”.
Para Charles Tisdell, diretor global de IIoT e automação de cervejarias conectadas e de fornecimento de tecnologia na AB-InBev, o mais importante é transformar a maneira como as pessoas trabalham. “Depois de transformar nossos processos de trabalho, quais são as lacunas que precisamos preencher para automatizar esses processos?”, comentou ele.
Os integrantes do painel concordam que é hora de deixar de lado as provas de conceito e passar para casos de uso reais focados em KPIs e ROIs que sejam tangíveis, mensuráveis e visíveis. Uma forma de atingir esse objetivo é por meio da estratégia de “microengajamento”.
Sobre essa ideia, Tisdell explica que “um microengajamento não é uma prova de conceito, é algo que podemos construir”. Ele acrescenta que sempre haverá um objetivo final em mente, mas que a ideia é começar pequeno e depois construir em direção a esse objetivo.
E como as primeiras impressões são sempre fundamentais, um início forte e uma implementação bem-sucedida são as melhores maneiras de criar entusiasmo e gerar impulso.
Preparando a força de trabalho para uma mudança cultural
Quando se trata de transformação digital, empresas de todo o espectro de CPG descobriram que a tecnologia geralmente é a parte mais fácil. O desafio é fazer com que os usuários e a equipe de suporte se comprometam com o sucesso de novas tecnologias implementadas.
Para engajar a força de trabalho, os integrantes do painel deram as seguintes recomendações:
- Garantir que a planta esteja pronta para as novas tecnologias e que a chegada delas não interrompa outros objetivos críticos em andamento.
- Entender os requisitos da força de trabalho e expandir a equipe, se necessário. Lembrar que você não pode confiar apenas nos funcionários que já são responsáveis pelas operações diárias.
- Preparar líderes da área que tenham experiência com a nova tecnologia e que já estejam comprometidos. Eles são fundamentais para envolver outros funcionários.
- Ter em mente que, à medida que a tecnologia muda, surgem novas funções. Isso pode ser especialmente difícil de gerenciar.
Sobre esse último ponto, Tisdell aponta que há trabalho a ser feito:
“Quando você entrevista uma pessoa, está procurando por um determinado perfil. Mas se você implementa uma nova tecnologia e um funcionário já não possui o perfil adequado, como desenvolver esse funcionário?”. As tecnologias emergentes oferecem algumas soluções. Hoje, mais empresas de CPG estão explorando plataformas de realidade aumentada (AR) para que os funcionários ganhem experiência e aprimorem suas habilidades.
Além disso, os integrantes do painel preveem que novas funções surgirão, como especialistas em ciência de dados e em otimização de processos, que serão indispensáveis nas equipes de operações e manutenção.
Padrões e infraestrutura: a base para o sucesso contínuo
Uma implementação digital bem-sucedida em uma instalação é apenas parte da equação para a maioria das empresas. Para obter o máximo valor de qualquer investimento, as soluções precisam ser facilmente escalonadas e implementadas em vários locais. Nesse sentido, Ingles expôs:
“Tudo remonta à infraestrutura e aos padrões que fazem parte dela. Se você estiver aplicando soluções padrão, a expansão em suas fábricas se torna fácil. Mas se a infraestrutura for fraca, haverá problemas no âmbito digital.”
Um sistema de dados bem gerenciado também é um componente fundamental da infraestrutura. Para Tisdell, o conceito de “data lake” está mudando:
“Todo sistema deve ter a capacidade de gerenciar a integridade e a qualidade dos dados gerados. Então, quando os dados chegam ao data lake, já são dados de qualidade que estão prontos para serem usados”.
E com um sistema de dados bem gerenciado, o compartilhamento de dados também pode ser mais estratégico. “Obtenha os dados uma vez e use-os várias vezes, é assim que você ganha velocidade no mercado”, acrescentou Tisdell.